quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Bozo, para que serve a polícia?


Imaginem comigo a seguinte cena...

Você se chama Ivan, tem 41 anos, é professor. Como professor, você acredita em gente, acredita que é possível transformar um primata em algo melhor.

Em um belo dia, você volta de viagem, cansado, certamente depois de uma jornada extenuante de trabalho. Ao colocar os pés para fora do taxi que te trouxe do aeroporto para casa em um trânsito civilizado e ordeiro (ha ha ha...), já ansioso para poder aproveitar o justo e merecido descanso do guerreiro, você é abordado por um "cidadão" que de posse de um trabuco, lhe pede gentilmente "emprestado" alguns dos seus pertences para, naturalmente, devolvê-los em momento oportuno, quando vocês voltarem a se cruzar por aí...


Puxa que azar! Mas por sorte, você pode contar com a força policial do Estado, bem preparada e disposta a ajudar (ha ha ha ha ha ha...). Você liga para a polícia e, quase como um relâmpago, eles estão na porta da sua casa (ha ha ha...). Em uns 15 minutos, eles dão umas voltas por aí com você, sem saber para onde ir ou por onde procurar.

- Puxa, que azar! Não encontramos nada... na maioria das vezes, temo sucesso, mas você é muito azarado, dotô!

Desolado e conformado com a sua má fase (você não devia ter passado em baixo daquela escada!), você volta para casa, infelizmente, sem os seus estimados pertences.
Mas novamente, a luz do destino brilha para você: um dos itens roubados possui um rastreador GPS!! Valeu Steve Jobs! É nóis!!

Com todo o ferramental tecnológico já disponível, você testemunha os passos do seu "amigo do peito" em tempo real. Que fantástico! Diante desta evidência ululante de que qualquer Homo Sapiens saberia tirar proveito, você liga novamente para a força policial, entidade pública a serviço do bem. Novamente, como um trovão, eles batem na sua porta quase que simultaneamente ao desligar do seu telefone (ha ha ha...). Olhando o rastro do fujão na tela do computador, eles percebem um problema:

- Pô, essa coisa não pára quieta! Sem cooperação, fica difícil... além disso, fora da nossa área de atuação... (*)



- É... não foi dessa vez, dotô! Faz assim, vai lá o senhor... se puder, leva mais gente... melhor, , por causa da sua segurança... quando tiver perto do meliante, procura uns cara assim, como nóis. Eles vão tá fardado também... melhor se achar uns em uma viatura, assim, com as luzes piscando... nessa época de Natal, deixa a cidade mais bonita, né dotô? Mas olha, antes, vou lhe dar uma dica, como amigo... o dotô aí tá precisando de um passe, pra descarregar essa uruca... boa sorte e fica com Deus, dotô!

Diante da prestimosa assessoria do bem preparado representante do Estado, exaustivamente treinado para te apoiar e te proteger (ha ha ha...), você segue à caça solitária do sujeito. Afinal, se não fosse esta valiosa dica, você não saberia que próximos passos dar.
Em chegando no local, você encontra outros membros do serviço de proteção ao cidadão. Porém, como "essa coisa não pára quieta"...

- Aí complica...


Reticente e sem opção, você volta para o conforto do seu bunker. Que bom que você colocou todas estas grades nas janelas e portas... Foi um ótimo investimento! Afinal, a segurança da sua família não tem preço!



Por algumas horas, você acompanha, on-line, os locais preferidos na cidade da pessoa que tem os seus pertences em custódia. Tem um restaurante muito bom nessa esquina! Mais que isso, você descobre o local onde esta pessoa se recolhe para descansar depois de um dia extenuante de "trabalho"... afinal, ele também é filho de Deus... Diante desta fantástica informação, você pensa novamente em pedir apoio às forças de segurança estatais. Pela educação que papai te deu, você fica assim, meio receoso, sem saber se liga ou se não liga, afinal, você já ligou tantas vezes em um mesmo dia... agora, já tarde... caramba, como é chato incomodar! Vai que eles ficam com a pá virada pela minha insistência e depois me deixam sem as valiosas dicas!


Que fazer?!



Depois de ponderar bastante, você liga! Tem certeza absoluta de que eles serão compreensíveis e sensíveis à sua situação! 1, 2, 3, ..., 37 vezes. Puxa, que azar, ninguém pode te ajudar... talvez, seja porque a equipe do atendimento telefônico também esteja fora da área onde o ladrão mora... faz sentido! Você pensa um pouco mais... Eureka! Como você agora sabe o local da residência do sujeito, você pode telefonar diretamente para a delegacia responsável pela área! Brilhante! Assim, maximizará as chances de pegá-lo! Você procura o telefone no Google... legal, achou! Disca:

- Claro, doutor, não se preocupe, mandarei um policial amigo meu... mas, ó, talvez, ele cobre um "por fora"... pode ser? o senhor sabe, , tarde, é Natal, as crianças querem presente... essas coisas... mas, o senhor dá o quanto quiser, viu? não tem preço estipulado, não... vai da sua generosidade...

Horas depois, toca de volta o telefone:

- Então, doutor... achar, achamos, mas não vai dar pra invadir... vamos precisar de mandato...


Diante dessa triste notícia, você se conforma com a incapacidade da polícia em lidar com a sua má sorte... contra isso, não há bom treinamento e bom planejamento que dê jeito! Onde será que você poderia tomar um passe a esta hora da noite? Você decide dormir um pouco.

Depois de uma revigorante soneca, você, agora com as energias renovadas e como todo brasileiro que não desite nunca, decide se deslocar ao endereço de repouso do outro filho da República do Brasil. No trajeto, você encontra, mais uma vez, bons policiais, bem dispostos ao nobre e edificante dever de proteger e cuidar (ha ha ha...).
Desta vez, vocês se deslocam ao local! Agora vai!! Você sente que sua sorte está voltando! Como foi bom dar aquela cochilada!

Doce ilusão, mais uma reviravolta do destino:

- Ninguém aqui viu nada... sem testemunha, fica difícil... faz assim, vai na delegacia e registra o B.O.... pelo menos, vai ficar tudo documentadinho no papel, preto no branco. Além disso, o registro ajuda à área de inteligência da polícia... o senhor sabe, , uma polícia sem inteligência, não é nada!

Como, em todo este calvário, foram as valiosas dicas que você recebeu que lhe ajudaram a avançar na investigação, você dá, mais uma vez, crédito ao prestativo consultor... afinal, a polícia serve para orientar, ensinar os cidadãos a pescar, não simplesmente dar o peixe. Chegando na delegacia, você é imediatamente atendido (ha ha ha...) pelo delegado de plantão:

- Eu verifiquei que ele tem passagem pela polícia, mas, mesmo assim, faltam provas... sem elementos mais convincentes, nenhum juíz vai expedir um mandado de prisão...

Mas e o GPS??!

- Você tem como provar que a precisão do GPS é correta? Sem isso, o senhor sabe... complica...


Imaginou? Tá achando que é ficção?


Senta e chora. O próximo será você!
(*) N.A.: Policial tem área de atuação dentro da mesma cidade??!


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